Neste últimosábado, fui submetido a uma dezena de torturasque tinham a finalidade de comprovar a todosque sou umsujeitoobstinado e, sobretudo, paciente.
De fato, a pior de todas foi ver TV. O motivoeranobre: assistir, pelaprimeiravez na vida, ao tãofaladofilme“A FantásticaFábrica de Chocolates”. Sim, estupefata leitora: confessoque, porter estudado a maiorparte da vida no períodovespertino, não pude assistir a estefilme todas as setecentas e cinqüenta vezesquevocê deve tê-lo visto, durante a “Sessão da Tarde”, enquanto fingia que estava fazendo o dever de casa.
E porter cometido pecadotãoimperdoável, eujá sabia que teria de expiaraté a últimagotapara pagá-lo, assistindo à “FantásticaFábrica” pelofamigeradoSistemaBrasileiro de Televisão, vulgoSBT.
Não sou especialistaemtelevisão, mas acredito que a TV do sr. Abravanel inventou o “filmecomapresentador”, comsua “Sessão Premiada”.
Funciona da seguintemaneira: compra-se doisfilmes “fora de linha”, arranja-se umapresentadoridem (nesse caso, Celso Portiole) e, a cada dez minutos de exibição, faz-se uminterminávelintervalocomercial, comdireito à participação de “colegas de trabalho” de todo o Brasil que tentam, pelotelefone, ganhar uns cincomilcaraminguás.
No fim das contas, umfilmeque teria tomado apenas 100 minutos de minhavida durou intermináveis 150 minutos, ou seja, perdi quase uma hora do sábadograças à sanhapecuniária do sr. Silvio Santos, o Willy Wonka da TV brasileira.
Dizem que se o Renascimento tivesse durado atéhoje, o padrão de beleza seria outro, Wilza Carla faria comercial das Havaianas e Luana Piovani seria considerada uma baranga.
Confessoque duvido muito de umpadrãouniversalqueme classifica comofeio e diz que o Rodrigo Santoro é bonito, sóporqueele tem simetria facial. Cá pra nós, quemprecisa de simetria facial é a indústria de cosméticos; mulherprecisa é de homemmesmo, e pontofinal – atéporque, nesse critério, eu e o Santoro empatamos, jáquenossosregistros de nascimento sãounânimesemnosclassificarcomohomens, embora exista, no registro do Santoro, uma exclamaçãologoapós a palavrahomem, provavelmente colocada pela escrivã que fez seuregistro (jánosprimeiros meses, o Rodrigo Santoro já demonstrava, vamos dizer, uma simetria facial exarcebada).
O triste é que a escrivã que fez o meuregistro colocou um "(sic)" depois da palavrahomem, maseuaindame vingo.
Umpadrão de belezaquesimplesmente classifique as pessoasem bonitas, normais, feias, horríveis e eu, nãovalehojepara a arte, quedepois do Duchamp, me elevou à categoria de bonitoconceitual. E pontofinal.