Cena 1
Entra uma senhora de alta sociedade. Zoraide, além de muito rica e pão-dura, era distinta, pão-dura, chique, pão-dura e um tanto comedida na hora de gastar seu dinheiro. Havia até um concurso interno no sindicato das senhoras de alta sociedade, para descobrir que tipo de animal peçonhento Zoraide escondia em sua mão. Diziam que havia até prêmio: cerca de mil reais para a felizarda. Mil reais? Mil não, novecentos. Oitocentos e cinqüenta. Setecentos. Setecentos reais e não se fala mais nisso.
Eis que Zoraide é convidada para o casamento do ano, daqueles que só acontecem de século em século. Sem maiores problemas, Zoraide começa sua peregrinação às lojas mais chiques da cidade, daquelas que possuem sensores ultra-modernos, capazes de captar o tilintar das jóias dos pescoços das senhoras de alta sociedade a quilômetros de distância. Zoraide entra na trigésima quinta loja, onde pode ver pratarias, porcelanas portuguesas do século XIV e os cacos de um vaso caríssimo que acabara de derrubar no chão.
– Meus Deus, que tragédia!
– Não se preocupe, senhora. Tem seguro – responde o vendedor, com um sorriso frio.
Zoraide então, usando toda sua capacidade economicista, faz as contas:
– Quanto vale este vaso? – que até aquele momento, e através de um processo de reprodução assexuada, já havia se multiplicado em quinhentos.
Corta para o casamento. Zoraide, que havia pago dez reais para o vendedor embrulhar “muito bem” o que havia sobrado do vaso, sai de seu carro segurando o presente para a noiva.
Estava tudo planejado. O tombo cinematográfico. A queda do presente no chão. O choro convulsivo. O consolar da noiva e dos convidados.
– Não tem problema, Zoraide. Sei que você comprou com o maior carinho.
E por solidariedade, a noiva abre o presente na frente de todos. Comentam lá no sindicato que até hoje Zoraide não se recuperou do susto ao ver, diante da noiva, que o vendedor havia embalado caco por caco em refinadas folhas de seda.
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on domingo, agosto 14, 2005 at domingo, agosto 14, 2005.
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